terça-feira, 7 de agosto de 2007

Personas


Penso na importância que sempre se deu - hoje cada vez mais desvairada - à beleza física, facial. Muitos dariam – e dão! – os que têm, o que não têm, o que pretendem ganhar. Tudo por um rosto belo. Ocidentalmente belo. Holiwoodianamente belo. Já me peguei pensando como seria se eu tivesse esse rosto. Arriscada empreitada, esse pensamento: o diabo está sempre à espreita, louco por negociação. Tem, certamente, seu lado bom (“e que lado!” – persuadiria o chifrudo). Mas analisando os prós e contras, noves fora nada, chego a conclusão de que seria quase uma maldição. Entrar num ambiente e ter todos os olhos voltados para mim – as mulheres olhando com interesse mecânico e os homens com inveja – também mecânica – e travestida de desprezo. Logo eu que dou meu reino para não ser o centro das atenções... Nem pensar! O lado bom de tal beleza todos conhecem de tal forma como se a tivessem, então, deixe-mo-lo quieto. Por mim (ou para mim), sou mais chegado a uma face, digamos, normal, levemente bela, por causa da facilidade que proporciona.
Mas os rostos que realmente me fascinam - de homens e mulheres - são esses discretos e silenciosos que circulam por aí com expressão de quem não perdem mais nem tempo, nem pôr-do-sol, nem passarinho entretido em galho com perguntas e devaneios sem respostas: “Há! Se eu isso..., se eu aquilo... eu daria tudo por...”... Não! Perguntas sem respostas só se for por deleite de filosofia e/ou poesia. Mas com lirismo por preceito. É essa expressão que quase invejo e muito admiro quem a tem. Eu conheço algumas pessoas que têm tal persona. Gosto de conversar com elas. Minha única preocupação é disfarçar a expectativa de ver associada a face à alma.
Do meu rosto já se distribuíram sentenças as mais variadas na escala de bonito a feio (realmente gosto não se discute...), o que nada significa nem diz nada de quem sou, de onde vim, para onde vou...
Um amigo meu que, diga-se de passagem – tem “aquela” expressão no rosto, tem uma tia de quem esporadicamente comenta algum causo e o faz com o entusiasmo de quem, por merecimento lógico se torna muito sensível e perspicaz por ser muito próximo de alguém muito sensível e perspicaz. E certa vez ele me confessou que a tal tia lhe disse que eu tinha o olhar triste. Por merecimento lógico, por ser tão próxima de alguém muito sensível e perspicaz, sempre imaginei na tal tia essas qualidades e vejo que realmente estava certo. De todas os rótulos que já me foram aplicados baseando-se pelo meu rosto, o que ela apresentou, como um golpe de vista, foi o único que me imobilizou: sim, tenho o olhar triste. Mas o que provavelmente nem ela nem os que concordariam com ela sabem é que a tristeza em meu olhar não é minha, não é por mim. Essa tristeza que carrego nos olhos é a dor e a angustia de minha maior chaga: a crise existencial de meu tempo; o vazio das mentes e as depressões das almas...
E mesmo que o remédio para as feridas do mundo não seja para breve, nem por isso pretendo carregar esse olhar até o túmulo. Mas sobre tristezas, crises, angustias, chagas, depressões, não posso falar agora... Uma andorinha pousou distraída em minha janela...

Um comentário:

Anônimo disse...

Há apenas 2 olhares e 2 corações q me encantam.Um desses olhares vejo constantemente,um desses corações já ouvi bater.O outro olhar ví em uma tela.E o outro coração q me encanta sei q existe.Sinto até.Mas nunca o ouvi bater.

Elaine Araújo.